quinta-feira, 28 de junho de 2012

Ensinamento da Palavra – Preparai o caminho do Senhor


No último Domingo (24/06/12) nossa Igreja comemorou a Natividade de São João Batista, primo de Jesus, que veio ao mundo para preparar os corações das pessoas para a vinda do Filho de Deus, que veio ao mundo para nos amar e perdoar todos os nossos pecados.

    Então na reflexão de hoje seremos guiados pela passagem de Lc 1, 57-80 para entendermos um pouco melhor a importância desse homem que tão bem serviu ao Senhor e seguiu os Seus ensinamentos.

     Já no seu nascimento, João Batista foi concebido graças a um milagre, pois sua mãe, Isabel, era estéril, e seu pai, Zacarias, tinha idade avançada. Esse mesmo Zacarias que não acreditou quando o Anjo Gabriel veio anunciar que Isabel ficaria grávida e acabou ficando mudo até o momento do nascimento do seu filho (Lc 1, 5-25). Esse é mais um exemplo de que para Deus, nada é impossível.

    No último versículo, podemos perceber que João viveu grande parte da sua vida no deserto, ou seja, não teve vida fácil, pois aceitou o propósito que Deus tinha para ele. Tamanha era a intimidade dele com o Senhor, que chegou a ser confundido com o Messias, mas ele sempre fazia questão de dizer: “Eu vos batizo na água, mas eis que vem outro mais poderoso do que eu, a quem não sou digno de lhe desatar a correia das sandálias; ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo.” (Lc 3, 16).

    Diante de todos esses ensinamentos que podemos aprender com a vida de João Batista, um dos mais importantes é saber preparar o caminho do Senhor aqui na terra. Nós, como cristãos, devemos assumir a cada dia a missão de preparar os corações das pessoas para o Senhor. Talvez agora tenha surgido uma dúvida: “E como podemos fazer isso???” Continuando com o exemplo de São João, podemos dizer que a primeira coisa é aceitar a vontade de Deus na nossa vida e fazer sempre aquilo que Ele nos pede, ou seja, começar amando o próximo e sendo exemplo vivo da presença de Deus na vida do outro já é um grande passo para prepararmos o caminho Dele. Partindo disso, certamente encontraremos pessoas e situações que precisarão da nossa atenção, do nosso cuidado, e estaremos sendo reflexo do Amor, ajudando os corações a se abrirem a imensa graça que Ele tem para cada um de nós.



Que a Palavra do Senhor nos ensine a sermos verdadeiros construtores do caminho Dele aqui na terra!!!

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Amai-vos como Eu vos amei

Não existe uma pessoa que não ame. Muda o objeto que é amado, mas faz parte da natureza humana voltar-se, no amor, para o que é desejado e buscado. Pode parecer muito simples, mas também a capacidade de amar vem a ser educada, num processo de formação que envolve a vida inteira. Mal formada, a inata capacidade para amar pode chegar inclusive à destruição da realidade que é amada. Trata-se de uma força imensa, plantada por Deus nos corações humanos. Ela vem do Céu, para se implantar e multiplicar-se no bem que pode ser feito na terra e se perpetuará na eternidade.
O amor é um sentimento? Envolve, sim, os sentidos, mas na compreensão cristã, que perpassa a Sagrada Escritura e a experiência secular da Igreja, é muito mais do que um sentimento. Antes, é um ato de inteligência e de vontade. Basta recordar a realidade do martírio, presente em toda a história da Igreja, na qual alguém se dispõe a superar o instinto primordial de defesa da própria vida, para entregá-la pelo bem dos outros, como resultado de sua escolha de vida no seguimento do Evangelho. Existem também situações de pessoas que, mesmo sem conhecimento do Evangelho, chegam a entregar-se pelo bem dos outros, pela causa da vida e da dignidade humana. Tais gestos fazem compreender a possibilidade de uma escolha radical, que orienta todas as energias humanas para o que não se vê nem se pode comprovar, senão pelo testemunho!
“Ouve, Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. E trarás gravadas no teu coração todas estas palavras que hoje te ordeno. Tu as repetirás com insistência a teus filhos e delas falarás quando estiveres sentado em casa ou andando a caminho, quando te deitares ou te levantares” (Dt 6,4). A primeira e decisiva opção na vida há de ser esta, como uma veste interior, que envolve e orienta todas as outras decisões: escolher Deus como tudo da própria existência.
O resumo da lei de Deus, expressa o Decálogo, se encontra na lapidar afirmação: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Mas foram necessários muitos séculos e, mais do que tudo, a revelação que vem do alto, para que tal mandamento viesse a ser compreendido. Aliás, foi preciso que o Pai do Céu enviasse seu Filho, como vítima de reparação por nossos pecados, para a humanidade entender o amor (1 Jo 4,7-10) e sua medida, que é justamente amar sem medida.
O amor ao próximo suscitou muitas perguntas. Afinal, o próximo é quem está perto de mim? Para povos que vagavam por desertos ou se sentiam ameaçados pelos potenciais inimigos, o estrangeiro é também próximo? Como tratar quem é diferente e incomoda? Jesus Cristo, amor do Pai que se faz carne no meio da humanidade, aproxima o amor do próximo ao amor de Deus, dizendo que o segundo é semelhante ao primeiro mandamento! Próximo vem a ser, para o Senhor, aquele de quem nos aproximamos e não apenas quem vem pedir qualquer ajuda: “Na tua opinião – perguntou Jesus –, qual dos três foi o próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” Ele respondeu: “Aquele que usou de misericórdia para com ele”. Então Jesus lhe disse: “Vai e faze tu a mesma coisa” (Lc 10, 36-37). Conhecemos o verdadeiro Bom Samaritano, o próprio Jesus, que veio percorrer as estradas do mundo, tomando a iniciativa de vir em socorro da humanidade.
Mas Jesus guarda a pérola de seu amor a ser revelada no ambiente especial da última Ceia: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei. Ninguém tem amor maior do que aquele que dá a vida por seus amigos” (Jo 15, 12-13). Aqui está um ponto de chegada, nascido do alto e que antecipa a realidade do Céu aqui na terra! Somos feitos para esta qualidade de amor!
Ainda que devamos amar a todos, sem distinção, cada cristão é chamado a ter um espaço de convivência, no qual possa declarar, com gestos e palavras, sua disposição para dar a vida e receber a vida doada. Nisto todos conhecerão que somos discípulos de Cristo (Jo 13,35). Pode ser a família, e quem dera que nossas famílias chegassem a esse ponto! Pode ser a experiência de uma Comunidade cristã viva, e para lá havemos de caminhar. Uma amizade sincera e pura proporciona esta declaração de amor. É uma potência indescritível de transformação da vida das pessoas. É necessário olhar ao nosso redor, pois existem, sim, pessoas, comunidades e grupos que oferecem este testemunho!
Nos mistérios da Páscoa, celebrados pela Igreja, Deus nos dá de presente esta capacidade de amar. De nossa parte, resta corresponder aos dons de Deus (Cf. Oração do dia do VI Domingo da Páscoa). Cada resposta e cada ato de amor a Deus e ao próximo contribuirão para que o mundo, sem deixar de ser mundo, seja mais parecido com o Céu!


Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém

segunda-feira, 4 de junho de 2012


Por Dom Alberto Taveira,
Arcebispo de Belém/PA
Assessor Eclesiástico da RCCBRASIL
Com muita frequência nos deparamos com os resultados de pesquisas destinadas a compor estatísticas que avaliam as tendências de nosso tempo, nas diversas áreas da vida. Trata-se de uma atividade inteligente, com metodologia precisa, cada vez mais apurada. Durante a semana que passou, já estavam à disposição levantamentos a respeito do que os eleitores levarão em conta nas próximas eleições municipais. Os comerciantes estão sempre atentos às tendências de mercado, os meios de comunicação conferem sua audiência, e daí por diante. Também as estatísticas religiosas nos interessam! Queremos saber com quem estamos tratando, como as pessoas recebem nossas mensagens, o efeito prático de nossa pregação e daí por diante. É que todos querem saber em que chão estão pisando!
Há alguns dias, veio-me um desejo diferente, o de tornar-me, como um texto lido há alguns anos, um contador de estrelas, olhando para o alto, ao invés de olhar apenas para o chão, sonhar com o Céu e não apenas constatar a realidade que nos circunda. E redescobri a oração do Pai Nosso, tão antiga quanto nova e revolucionária. Para rezá-lo, veio espontâneo o sinal da cruz. Antes do Pai Nosso eu disse “Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. Vi que traçava, junto com as palavras, a cruz de Cristo sobre mim. Pareceu-me ver o universo aberto de forma diferente, com uma haste voltada para o alto, para o infinito. A outra abraçava o mundo. O contador de estrelas começou a sonhar, mas com os pés no chão!
Vi que existe no alto um modelo para caminhar na terra. De fato, há um “plano” pensado desde toda a eternidade, há um sonho de Deus para a humanidade. Seu nome é santificado porque as pessoas são chamadas a viverem voltadas para fora de si, abertas para amar e não dobradas sobre os próprios interesses. Como sou livre, incomodou-me um pouco pensar que no desenho do projeto de Deus está escrito que é para fazer a sua vontade, até que entendi que numa reunião de amor, que dura toda a eternidade, a família de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, tramou a estratégia da felicidade. Pareceu-me ver, olhando para as estrelas iluminadas no horizonte da fé, que é mesmo melhor fazer o que agrada a Deus, pois Ele é infinitamente maior do que todas as mentes humanas.
E foi então possível rezar de novo “venha a nós o vosso Reino”, constatando que é melhor implantar o Reino que precede e pode iluminar todos os reinos do mundo. Se eu tivesse em mãos todas as constituições de todos os países, e a elas ajuntasse a avalanche de leis que os homens e mulheres elaboram a cada dia, no afã de encontrar saídas para os problemas de nosso tempo, descobriria nelas os rastros daquele “plano”, porque sei que estão plantadas por aí muitas sementes do Verbo de Deus. É que acredito na ação misteriosa e verdadeira do Espírito Santo, que planta o bem onde nós menos esperamos.
Nas estrelas do Céu de Deus, vi que estava escrita a lei da providência. Pão do Céu e Pão da terra, pão compartilhado e dividido. Na oração, o sonho de que todos acolham o alimento do Céu e aprendam a lei divina da liberalidade, para que não haja fome nesta terra. Foi bom constatar que a natureza que Deus nos deu foi pensada com inteligência. Não faltam recursos nem comida, mas falta partilha! Quem se volta para o alto descobre a receita da despensa e da cozinha de Deus!
O Céu de Deus, a casa da Santíssima Trindade, é amor eterno. Quando desceu a terra, este amor assumiu a face da misericórdia. Que ousadia e que risco corri ao dizer “perdoai-nos assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido”. Viramos o jogo? O Céu e o Pai do Céu se submetem à nossa capacidade de perdoar? É que o plano de Deus nos introduziu num verdadeiro jogo de amor. Numa nova “escada de Jacó” (cf. Gn 28,12 e Jo 1,51), o Céu e Terra partilham seus dons, ainda que o Céu seja sempre o vencedor, pois a vitória que vence o mundo é a fé!
Para chegar a tais alturas, aquele que nos livra do mal nos liberte também da tentação de olhar somente para baixo, nivelando o mundo ao rodapé das constatações frias. Deus tem a palavra e Ele é mais inteligente do que minha pobre percepção da vida. Olhando para Ele, que é família e não solidão, sonhei com o mundo “passado a limpo”, como foi pensado para a felicidade de todas as criaturas de todos os tempos.
Sonhei tanto que rezei assim: “Ó Deus, nosso Pai, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito santificador, revelastes vosso inefável mistério. Fazei que, professando a verdadeira fé, reconheçamos a glória da Trindade e adoremos a Unidade onipotente”. E disse “Amém”. E sonhei de novo toda a humanidade vivendo o Céu, na terra e na eternidade!
Fonte: ZENIT